Acta Médica Portuguesa (May 2025)

Custos e Consequências da Doença Renal Crónica em Pessoas com Diabetes em Portugal: Um Estudo de Modelação

  • Margarida Borges,
  • Edgar Almeida,
  • Rui Alves,
  • Raquel Ascenção,
  • Miguel Bigotte Vieira,
  • Carolina Bulhosa,
  • João Costa,
  • Gonçalo S. Duarte,
  • Luís Falcão,
  • Manuel Pestana,
  • João Raposo,
  • Filipa Sampaio,
  • Josefina Santos,
  • Ana Paula Silva,
  • Luís Silva Miguel

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.22573
Journal volume & issue
Vol. 38, no. 5

Abstract

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Introdução: A doença renal crónica é a doença crónica com maior crescimento de prevalência, e uma das maiores causas de mortalidade global de acordo com o Global Burden of Disease Collaboration. O presente estudo teve como objetivo projetar a evolução desta doença em pessoas com diabetes, de modo a quantificar os custos e consequências no contexto português. Tal foi conseguido através do desenvolvimento e parametrização de um modelo analítico refletindo a epidemiologia da doença renal crónica e integrando os vários estádios de progressão da doença. Métodos: Foi utilizado um modelo populacional de coorte com uma mecânica de Markov, onde pessoas com diabetes e doença renal crónica foram seguidas ao longo de 50 anos, em ciclos anuais, sendo registada a sua progressão através das diferentes categorias de risco da doença renal crónica. O modelo considerou a progressão natural da doença renal crónica através de 18 categorias de risco baseados na matriz de estadiamento de KDIGO, bem como a probabilidade de os doentes receberem terapêutica de substituição renal, designadamente, diálise e transplantação renal e a probabilidade de morte. A cada estádio estão associados um custo anual e um ponderador de incapacidade, pelo que o modelo permitiu estimar a sobrevivência, os anos de vida perdidos por incapacidade (years lived with disability), e os custos incorridos ao longo da vida, para a totalidade da população e para doentes em diferentes categorias de risco. Resultados: Durante o tempo total de evolução da coorte, o modelo estimou, para a população total com doença renal crónica e diabetes, uma sobrevivência média de 8,62 anos, com 0,59 anos perdidos por incapacidade, e um custo médio lifetime de €24 613. Estes valores correspondem a mais de 410 mil anos de vida perdidos por incapacidade e um custo total, ao longo da vida, de 17,0 mil milhões de euros. A análise por nível de risco demonstra que a progressão da doença renal crónica está associada a menor sobrevivência, mais anos perdidos por incapacidade e maiores custos. Conclusão: Os resultados deste estudo caracterizam a progressão natural da doença renal crónica em pessoas com diabetes mellitus tipo 2 bem como os custos e consequências associados no contexto nacional. Sendo a diabetes mellitus tipo 2 um fator de risco da doença renal crónica, é expectável que nas próximas décadas o impacto real seja maior do que o estimado. A análise por nível de risco permite verificar que a progressão da doença está associada a piores resultados.

Keywords