Esboços (Feb 2025)
O filo-helenismo da bildung alemã e a invenção da Grécia Antiga como "berço do Ocidente"
Abstract
Partindo de uma revisão historiográfica com ênfase na história dos conceitos, o objetivo do artigo é explorar a construção histórica da concepção de que a Grécia Antiga se constitui como precursora da "cultura ocidental". Para tanto, perpassa-se alguns processos históricos fundamentais para a consolidação de tal ideia, como o filo-helenismo e os estudos da antiguidade grega impulsionados por Johann Joachim Winckelmann no mundo de língua alemã; o desenvolvimento do romantismo alemão, entrelaçado à formulação de uma identidade cultural germânica frente às invasões napoleônicas à Prússia, que se apoiou sobre a idealização da cultura grega; a reforma do sistema educacional prussiano promovida por Wilhelm von Humboldt, fundamentada em uma concepção humanista que valorizava especialmente os estudos helênicos; o desenvolvimento da linguística histórico-comparativa; a ampliação dos estudos sobre as línguas indo-europeias; e o modelo ariano de interpretação da Grécia Antiga. Como resultado, compreendemos que a grande valorização atribuída à antiguidade grega foi concebida em língua alemã por volta do período do romantismo alemão e do surgimento da Universidade de Berlim, em 1810, mas a ideia foi ampliada para outros lugares da Europa e, não só a Grécia Antiga, mas a História Antiga no geral, passou a ser utilizada como sustentáculo da ideia de "cultura ocidental", que teria origem nessa suposta herança cultural grega.
Keywords